UM CORAÇÃO NAS MÃOS DE DEUS

João Calvino era um jovem erudito, reservado, estudioso, porém conhecido por seus colegas de universidade como um homem de disposição tensa e nervosa, consciente de que possuía certa irritabilidade. Como, então, se tornou uma influência tão poderosa no ministério do
evangelho?

A resposta está em uma carta que Calvino escreveu, em 1564, ao seu amigo e colega Guillaune Farel: “Basta que eu viva ou morra por Cristo, que é, para todos os seus seguidores, lucro tanto na vida como na morte.” É o eco inconfundível do mesmo testemunho de Paulo: “Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21). Este moto sempre esteve associado a Calvino: “Ofereço-Te meu coração Senhor, pronta e sinceramente.”

Em 1541, enquanto se preparava para retornar a Genebra, de onde fora praticamente expulso anos atrás, em carta a Farel, ele disse: “Se eu tivesse uma chance à minha disposição, nada me seria menos agradável do que seguir seu conselho. Mas, quando me lembro de que não pertenço a mim mesmo, ofereço meu coração como um sacrifício ao Se-nhor”.

Tudo isso vem da mudança radical que ocorre no ato da conversão. O ser humano é totalmente depravado e quer distância do seu Criador, porém, quando o Senhor Jesus entra em seu coração, uma nova disposição para glorificar a Deus toma conta do ser, conforme escreve o próprio Calvino:

“Visto que eu me achava tão obstinadamente devotado às superstições do papado, para que pudesse desvencilhar-me com facilidade de tão profundo abismo de lama, Deus, por um ato súbito de conversão, subjugou e trouxe a minha mente a uma disposição suscetível, a qual era mais empedernida em tais matérias do que se podia esperar de mim naquele período de minha vida. Tendo assim recebido alguma experiência e conhecimento da verdadeira piedade, imediatamente me senti inflamado de um desejo tão intenso de progredir nesse novo caminho que, embora não tivesse abandonado os outros estudos, me ocupei deles com menor ardor.” (J. Calvino, O Livro dos Salmos).

A linguagem impressionante que ele utilizou para descrever sua conversão nos dá o retrato dos princípios que moldaram sua vida cristã. Seu estado anterior à conversão era caracterizado por uma mente “impedernida” e resistente, completo desinteresse pela verdadeira piedade. Mais tarde ele escreve que a mente humana caída é “uma fábrica de ídolos” e resistente á graça. Com a conversão, a mente de Calvino foi moldada e trazida a uma “disposição suscetível”, surgindo novas afeições pode-rosas. Tornou-se “inflamado” com um “desejo intenso” de crescer na verdadeira “piedade”. Oferecer o coração a Deus implica ter desejo de crescer no “conhecimento da verdade segundo a piedade” (Tito 1.1).

Rev.Iziquiel Mathias da Rocha

20/10/2013

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